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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Aguarda-me, na curvatura do rio, o Caronte.
Disse-vos que não morro nem pago a moeda...
Orfeu desceu o inferno de Hades em sua arreda.
Eu nado,se possível for, o próprio Aqueronte.

Nem a barca do inferno será minhas rédeas.
Eu sou o velho moço com a espada na mão...
Correndo os campos verdosos das eqüídeas,
Em quase vôos alçados como os pássaros ao chão.

E é pela guerra e pelo amor que na morte eu luto.
E de luto retorno nas noites em que a escuridão
De serena me faz te lembrar como o meu galardão...

E sou o lutador escarlate que escorre em gotejo.
Sou a quimera dos sonhos dos inimigos...
O amante da vida à deriva do desejo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A Góia

Não cresci nos campos de relvas
Nem na cidade cinzenta de paris.
Vim das periferias, das vielas quase selvas
De onde me faço escapar por um triz.

Eu que bebi e fumei
Sem ser um boêmio,
Que escrevi e cantei
Sem ser nenhum gênio...

Eu que sou fumaça tragada,
A góia* suja, estragada,
A folha de papel amarrotada...

Não pude ser o grande poeta
Mas fui o grande obstetra
Que pari as dores de mim.

*góia é o que restou do cigarro.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Pude ver num instante
Sob a cor dos olhos ébanos,
Num brilho fulminante
O que precisamente éramos.

E éramos como o sol,
Quente e avermelhado,
Doce como o enol
E silenciosamente gralheados.

Éramos divertidamente livres,
Éramos mais do que seres,
Éramos divinamente líderes...

De nós e daquele instante
E ainda somos ainda...
Até quando quisermos ser.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Do atrito de nossas epidermes molhadas;
De nossos cabelos entrelaçados e dedos;
Do perfume de nossos pescoços acesos,
Do brilho de nossas salivas enroscadas...

Eu que sempre fui libertário
Dos jugos do que se pode fazer...
Eu que sempre fui visionário
Dos meus feitos e do que pude ser...

Aqui me vejo atrelado aos teus beijos,
Aos teus abraços e rostos tocados, mulher.
Vejo-me nas correntes do vento do desejo...

Pois sou, desde então, a loucura
Da liberdade atadas às venturas
Dos sonhos em que se faz o que quer.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Libertino...

Vim de longe como o vento enfurecido
A borrifar os prantos da saudade apaixonada
Sob o chão de terra rociado, humedecido
Plantando rosas pra minha musa idolatrada.

Quem dera eu fosse o bardo de seus versos preferidos
Pra compensar o asco de minha vida devassada
E enaltecer o jovem de nome empobrecido
Diante a face da moça de feição imaculada.

Ai se eu fosse o sonho da noite mal-velada,
A insônia sob a luz dos vaga-lumes,
O desejo do inconsciente adormecido.

Vagando libertino, feito ondas do mar
Atado ao tempo deste sono profundo,
Vejo-te nas pálpebras quando pretendo sonhar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Foram os pirilampos que me fizeram lembrar... Naquelas noites mal dormidas em que não se pode sonhar –, senão acordado. Foi que pude ver no escuro, aos relampejos nas urzes dos campos, os pirilampos em seus romances a dois. E então lembrar era o sonho naquela insônia da noite entre a janela e o travesseiro. E me via na infância, com um sorriso nostálgico, a namorar na cancela. Saudosa criança eu fui, que corria atrás das troças das bandas que tocavam canções de amor; que rabiscava os cadernos com poesias e sonhos... Mas a fronte franze com o tempo e nos tornamos velhos –, mesmo sendo jovens. E caducos ficamos, desiludidos com o fardo que carregamos, com os dias desventurados de nossa vida curta. E de não restar tanto júbilo, pouco importa tantas coisas, senão o que custa às lembranças. O arroubo de hoje tem sido as aventuras efêmeras que não passam de experiências para um pobre ator. Mas a musa que vejo nos sonhos e que escreve poemas é a que tem me tornado o que eu sempre fui, o que sempre serei.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Aos pássaros que voam
E do alto nos vêem aqui
Em baixo;
Mas alto ainda, as nuvens
Vestidas de branco,
Que no inverno chovem
Para lavar os prantos
Dos amores perdidos, findados...
Aos de corações sofridos
Que a vida regelou-lhes o peso,
O malfado...
Aos que já estão mortos,
Que jamais beberão este vinho
Nem um gole sequer...
Aos que nos deixaram seus nomes
Escritos na memória...
Aos que já chegaram ao fim
Depois de seus pequenos passos
Lá no início...
E à morte
Que vem do precipício,
E que é a vida dos romances
Acabados...
Uma saúde!!!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A cada instante uma queda
No abismo das palavras malditas,
A mercê de um estouro ao tocar o chão.
O tempo lhe empurra pelas costas
E caindo grita o poeta
A prantos de seu destino
Que não o tem em suas mãos.
Injuriado escreve os sonhos
Pra ensinar a deus o que fazer
Com sua varinha de condão.

Washington Machado
04 – 09 – 09

Sem tantas pretensões

Longe da hipocrisia dos céticos
Digo que amo
Como se faz qualquer coisa na vida,
Como se deita na grama a olhar o céu...
Sem tantas pretensões.
E busco
Nos afagos líricos dos versos
O beijo que não dei,
A musa com quem não deitei,
Os sonhos que ainda hei de sonhar.
Longe das regras litúrgicas
Do medo da morte
O desejo mais vaidoso:
A liberdade...
Antes de tudo acabar.

Washington Machado
01 – 09 – 09

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Amigos leitores. Ao que neste caderno de rascunhos escritos de um não-poeta serão exibidos são, não mais que palavras soltas, livres, de uma mente aprisionada pela ordem exterior, e que, desde a infância (não trata-se de sonhos apenas), tenta expor ao mundo tudo aquilo que é endógeno ao pensamento; aquilo que brota no interior da essência ou que, talvez, possa chamar-se poesia. Vítimas somos, sempre, que algo tenta nos limitar, impedir, impor regras, subjugar e determinar por uma ordem que estamos errados, que estamos provocando o caos, a desordem do sistema. Ora, ao que aqui será posto, será algo da maior caoticidade possível. Pois, percebendo as estrelas: elas não obedecem ordens; explodem na barafunda de suas moléculas atraídas, perfurando a escuridão do infinito com o aceso de sua ternura. Amigos, sem pretensões não maiores que a liberdade, digo: É preciso provocar o caos para fazer nascer a ordem. Aqui, um pouco desse estilo poético.

domingo, 21 de junho de 2009

Depressa.

O que não vale à pena é morrer depressa.
Antes que a língua se enrosque em outra;
De uma vez, pra sempre.
Há tanto o que saborear.
Até o amargo entre os dentes
Que o ódio nos traz gentilmente.
– Droga, ele deve achar que é doce.
– Tudo bem.
O que não vale é esperar o tempo.
Ele que corra atrás de mim, não tenho tempo pra ele.
Afinal, tudo termina.
Aliás, já terminou.
O que resta são mais algumas incertezas.
E acho que dá tempo de escrever outra poesia.

14, 06, 2009.

sexta-feira, 6 de março de 2009


O tempo passa. E consigo leva um pedaço de mim. Deixando-me apenas os sonhos, as lembranças e aquele instante fugaz. Como se fosse um grande presente inopinado, diluído no espaço. Em troca, ele me aproxima da morte, do esquecimento e do fim. E vai me distanciando aos poucos dos momentos felizes, de todos os momentos. Não consigo escapar!
O tempo corrói a minha existência vil. Deixando-me solto nos abruptos dias dissipados, insípidos. Em cada hora, minuto ou segundo, o que me resta a fazer, em cada compasso do tempo?
Sou inócuo do acaso que ele me oprime. Mas aqui estou... Tão preso e tão só, pagando a sentença. O tempo consome meu tempo. Que crime insano. Não sei de onde vim, nem sei pra onde vou. Não consigo escapar!
O tempo passa e destrói o meu ser, a minha agonia, a minha dor, e o meu amor. Não sabe o tempo, que somos cúmplices um do outro, nessa perpétua ilusão...
O tempo fica e eu vou. Mas ele só existe por causa de mim...
Washington Machado
24 - 07 - 08
O Artista...

Ele veio sorrindo, cantando,
Dizendo alegres versões.
Seu rosto pintado de cor
E os olhos a brilhar.
Cheio de sonhos,
E de conquistas pra contar.
Tudo era ótimo,
Tudo era belo
Até o show acabar.
Doces momentos fantásticos
Antes de em casa chegar.
E ouvir o silêncio e a dor...
Míseras flores murchas.
Pobres borboletas mortas.
Sozinho o palhaço chorou.
Paredes sufocantes,
Quadros e livros...
Mas uma noite acabou

(Washington Machado)

A cortina fechou.

A cortina fechou
Com apenas duas palavras.
Foram-se todos os sentimentos
Como que os ventos levassem para longe.
Nem a razão,
Nem os sonhos,
Nada restou.
Com apenas duas palavras
Tudo se foi
Até as frases de amor.
O sorriso do rosto,
Os abraços,
A flor...
Só restaram lembranças
Do que aconteceu.
O que você tem a dizer
Da sorte,
Dos ventos,
O preço que se pagou.
A cortina fechou
Com apenas duas palavras.
Nem os desejos,
Nem os versos,
Nada restou.
Foram-se todos.
Até os olhos
Cheios de lágrimas,
Não foram capazes de mudar...
A cortina fechou
Com apenas duas palavras.
Nem as músicas,
Nem as luzes.
O teatro acabou.
E a cortina fechou
Com apenas duas palavras.
Washington Machado
14-04-08

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