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quinta-feira, 25 de março de 2010

Chega o inverno!


Chega o inverno!
E escorre nas janelas a chuva,
O frio embaçador...
O cinza toma conta das cores opacas.
E as cortinas do céu escuras.
No asfalto molhado o brilho dos postes...
Não queria falar de desejos, mas me lembro dos lábios,
Molhados também!
O tempo não sugere outra coisa...
A vida é, às vezes, apenas um beijo.
E a saudade pra nos dizer que somos escravos.
Escravos do tempo e das vontades...
O frio prepara-nos para o ataúde
E a chuva é como o choro de nossas mortes.
O tempo é este. É mórbido!
O ósculo tépido, nostálgico
É o melhor quadro da memória.
É difícil disfarçar que a vida é como um beijo
Efêmero como o cair da chuva
E eterno como a saudade!

Invenções malfeitas

Às vezes,
Percebo em minha volta,
Um menino que fui e que não o sou mais...
Eu era tão bonzinho
Que fui engolido pelo monstro que sou.
E hoje sou tão mau que me acham bonzinho.
Eu posso ver os demônios...
Venham,
Sentem-se aqui para confabularmos juntos
Sobre o que fazer desse mundo enganado...
Sou honesto para dizer quem sou,
E sou o que digo!
Não prometo nenhum éden nem algum céu caiado de mentiras...
Isso é conversa!
Eles são os mesmos malvados que os levarão a morte...
Venham comigo para um mundo novo
Em que nós somos os próprios deuses...
A morte é a nossa esposa de amanhã
E antes de deitarmos com ela
Façamos de nós maiores,
Intrépidos,
Vorazes,
Iguais...
Assim haverá verdade longe das disparidades.
Invenções malfeitas,
Esculpidas com o tempo...
Uma merda que se deteriora...
Às vezes,
Percebo em minha volta,
O velho que um eu dia serei.
- Seremos!
Então sejamos todos iguais.
As mudanças são boas e más...
Por isso prefiro ser eu.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Rosna no meu estômago ferido
De tantas outras já emoções pendentes
O amargo, áspero, acre, agridoce...
De uma ânsia de dentes mordidos.
Maldita sensação orgânica e lacrimosa;
Saudosos sentimentos perdidos.
Ah! meu estômago,
O vômito seria a solução!
Dioniso dê-me uma dose
Para o diagnóstico de meu infortúnio.
Quero beber o último gole até o inferno
E dizer que amo as putas do bar...
De minhas sensações exorbitantes,
Pleonasmos cataclísmicos...
A minha saudade orgânica.



Discorro como um rio as ribeiras
Corro seguindo as correntes as correntes do mar...
E na beira da praia beijo às ondas.
São as ondas, o mar: a foz do meu rio.
Desço, escorro as ribeiras o meu caminho.
Vou seguindo até a beirada do mar.

sábado, 13 de março de 2010

O espetáculo vai começar!

Não vi demônio nenhum na escuridão.
Só almas vagantes, insaciadas...
Eu ansiava encontrar os mortos
E só vi a minha imagem no espelho.
A alcova está cheia de espectros maquiados.
Na coxia há um vulto de meu personagem
E eu o chamo para a luz.
Não há holofotes na ribalta para mim
Nem assoalho que me possa sustentar...
O palco é dos demônios que a igreja amaldiçoou.
- Merda!
Para que aconteça o contrário da vida insaciada...
Venham pobres perdidos para debaixo de minhas asas.
- Eu sou Dioniso...
A escuridão do teatro é para os que não têm medo das trevas.
Lá existe a vida abundante para os inconformados.
O texto está cheio de amor e de ódio
Desde que os deuses escreveram o grande espetáculo...
Poetas metidos à bestas.
Venham aqui atuar ao invés de mandar seus filhos medrosos.
Eu estou aqui no proscênio puxando as cordas das cortinas.
O espetáculo vai começar!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Arrarrarrarrarra...
Esse é o meu deboche longe da máscara cortêz.
Ouçam-me, pobres surdos.
Eu não sou um poeta, mas sempre tenho algo a dizer.
Queiram ouvir, bandidos.
Saqueadores dos sonhadores antigos...
Desta vez não vim com métricas e rimas baratas...
Tampouco quero pular as linhas com versos desconexos...
As pautas merecem uma voz.
Portanto ouçam:
Desta folha caiada em que se permite riscar;
Deste papel impoluto em que a mão surpreende a vaidade vã...
A única e cruel de todas as coisas que amedrontam a Deus...
A querida e nunca sentida por completa;
A proclamada e burlada pelo cárcere do medo...
A liberdade!
Esta é a minha musa de todos os versos que mata o meu poeta...
Ela é a que me faz morrer antes de todos e viver longe daqui.
Poucos a conhecem e já se deitaram com ela...
Os medrosos nunca a terão em sua nudez libidinosa...
E nesta folha pálida em que há o seu nome,
Há também a minha voz presunçosa e incompreendida.
Fodam-se, malditos.
E seus medos os conduziram para o inferno...
E serão todos lançados para baixo como poeira da ampulheta;
Deixem suas cinzas para as árvores dos cemitérios
E fora do ataúde deixem a folha de papel com a voz ecoante...
Ouçam e se ousarem dizer gritem para que vocês mesmos possam ouvir...
Os fantasmas estão soltos querendo gritar...
Lancem-se também na noite e na brisa da manhã...
E no final risquem o papel outrora morto.
Aqui só se permite os que não têm medo
E os que têm algo a dizer.
Deus que me venha dar as nádegas para boas palmadas...
E as suas bundas levantem-na para correr.
Eu já estou aqui, pretensioso para ir mais longe.
E suas lentes embaçadas nunca os permitirão enxergar
Senão quando a própria liberdade quebrar os seus óculos.
E da emoção que restar agora, agradeçam-me.
Eu já ri o bastante.

Cretino...

A mão estendida,
Os pés na cor do asfalto,
Os olhos desconfiados,
Esmorecidos, verdadeiros...
A bermuda fora a calça de alguém;
A camisa emblemática do corrupto;
Descalço e sujo
Na calçada dos judeus.
Ele é o meu transunto
E Deus ama a imundice...
- venha aqui, Senhor! Velar comigo.
Ecce Homo!
Eu sou o lixo do canto da rua,
Os ratos, as baratas, os vermes do esgoto...
Eu sou aquele homem que pede esmolas
E Deus é a minha imagem.
Eu me vi naqueles olhos chispados
Que ninguém se pôs a ver.
A cidade, cheia de tudo, e ninguém viu o morcego.
Alguém viu o morcego?
O canário está na gaiola e todos querem ouvi-lo cantar.
Cadê os porcos? Cadê os porcos? Cadê os porcos?
- Deus, saia da platéia e suba ao palco!
Cretino...

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